Pretende-se com este trabalho mostrar às camadas jovens deste concelho, principalmente, e também a todos aqueles que pela idade se lembram do que os seus antepassados falavam, do que experenciaram, e a todo o Portugal, e também às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, um pouco da história de Arganil, das suas gentes, dos seus sofrimentos, alegrias, afazeres, enfim aos habitantes da serra do Açor como foco dinamizador e potenciador social.
Além das fotos que irão ilustrar este trabalho de uma forma algo persistente, também nos debruçaremos um pouco aos costumes e gastronomia dessa época , às suas tradições, aos seus conflitos, e às experiências vividas no campo agrícola e aos motivos sociais envolventes em que a época era rica e fertilizante para o Homem deste concelho.
Todos os ítens que se situam acima, têm como suporte os escritos do Dr. Paulo Ramalho, e principalmente no seu último livro intitulado "Tempos Difíceis" - Tradição e Mudança na Serra do Açor.
Lamentavelmente o livro não apresenta uma biografia, por pequena que seja, do Dr. Paulo Ramalho!!! Só compreendo tal facto, para não dizer lacuna, à sua simplicidade, à sua competência, como é próprio de quem tem valor, dos grandes homens. A sua dedicação ao Museu Etnográfico de Arganil é sobejamente conhecida, e se ele existe e se é aquilo que está patente ao público, deve-se a ele.
Transcreve-se a nota introdutória do seu livro que reza assim: A criação do Museu Etnográfico de Arganil obedeceu a um objectivo principal: salvar do esquecimento e do pó, para benefício das gerações futuras, as raízes culturais desta região, os hábitos e os objectos que formam a memória colectiva dos povos da Beira da Serra e, em especial, da serra do Açor. Só assim, afirmando nos tempos que hão-de vir uma identidade que já vem de longe, um passado com tradições de que todos nos orgulhamos, será possível construir um futuro com memória e, simultaneamente, reforçar a nossa diferença e especifidade neste Mundo em acelerada globalização.
Inaugurado a 6 de Julho de 1997, depois de um exaustivo trabalho de campo que levou à recolha de cerca de 90% das peças do seu actual espólio, o Museu Etnográfico de Arganil só foi possível devido à colaboração estreita e empenhada das populações serranas. Ele constitui por isso uma justa homenagem às gentes simples que, desde tempos imemoriais, habitam as pequenas aldeias perdidas na Serra do Açor. A reconstituição dos seus hábitos e tradições, da sua cultura serrana, da sua vida dura, difícil, por vezes miserável, revela-nos homens e mulheres de grande honestidade e dignidade, pessoas de carácter sóbrio e comportamento austero, habituadas a sobreviver a tempos de muita escassez.
A vida despojada destes povos, em estreita relação com a natureza, traduzia-se em objectos que, sendo normalmente simples e rústicos, não deixavam de possuir intensa beleza e significar profunda harmonia (ainda que durante longo tempo oculta pela pobreza endémica).
As últimas décadas foram de rápida desagregação social, económica e ecológica - actualmente a serra agoniza. No entanto, estamos às portas de um novo século e o futuro repousa nas nossas mãos. Talvez à serra esteja reservado, nestes tempos difíceis de mudança e de crise de identidade, um novo papel: fazer-nos olhar o passado para melhor reflectirmos sobre o futuro.
Ao completar um ano e meio de abertura ao público, o Museu Etnográfico de Arganil, encerra também, com a edição deste livro, um ciclo de existência - concluído o processo de instalação, há agora que proceder à consolidação do trabalho efectuado, ampliando o seu já exíguo espaço e direccionando a sua actividade para novos pólos de intervenção etnográfica. Entretanto, aqui fica, nestas páginas, o registo escrito e fotográfico de uma exposição; e com ele a memória dilacerada de um século de enormes mudanças na Serra do Açor.
De referir que os textos do livro remetem sempre para situações passadas, mesmo quando se referem a práticas que se mantêm quase inalteradas ou a objectos que continuam a ser utilizados no momento presente. Tal opção permite sublinhar a contingência e a inconsistência do funcionamento isolado das partes (a apanha da azeitona, por exemplo) num contexto de acelerada mudança global.