Arganil do Passado - A Morte da Serra










Arganil do Passado - A Morte da Serra



A Morte da Serra

A emigração foi sempre a "válvula de escape" para as populações da Serra do Açor, nas alturas em que a pressão da miséria e da fome era demasiado forte. Foi assim na Idade Média, com os Descobrimentos; depois, nos séculos XVIII e XIX, veio a emigração para o Brasil; já neste século surgiram outros destinos: Lisboa; África e, por fim, nos anos setenta, o grande êxodo para a Europa.
Mas enquanto os anteriores fenómenos migratórios, assumindo um carácter de relativa excepção, acabavam por ser um factor de equilíbrio social e sustentabilidade económica para a região (um filho fora ou a ganhar, os outros por cá a trabalhar), o último foi como um grande sopro de vento que varreu as serras e levou as suas gentes. Uma após a outra, as famílias debandaram para Lisboa, Angola, Paris, Luxemburgo, em busca de uma fortuna que nem sempre encontraram.
Aguadeiros, moços de esquina, almeidas, estivadores, limpa-chaminés - eram estas as profissões dos que, idos da Beira Serra em busca de sorte, demandavam a grande Capital e se instalavam precariamente nas Casas da Malta. Chegavam cheios de sonhos e de esperança mas, ao cabo de uma vida de trabalho, sacrifícios e desilusões, poucos eram os que regressavam abastados à terra que os vira nascer.
Mais tarde, já nos anos 60 e 70, a actividade hoteleira, com a sua rede cúmplice de pequenos empregados em bares e restaurantes de familiares e conterrâneos, alargou as possibilidades de sucesso e criou horizontes mais prometedores para aqueles que chegavam a Lisboa "à pergunta de trabalho".
Dr. Paulo Ramalho - "Tempos Difíceis" - Tradição e Mudança na Serra do Açor




Mineiros

As minas da Panasqueira, em S. Jorge da Beira, foram durante uma boa parte deste século uma das poucas fontes de trabalho remunerado para as populações de Arganil.
Os mineiros saíam Domingo ao fim do dia das suas aldeias e voltavam na sexta seguinte a desoras. Para um lado e para o outro, muitas caminhadas nocturnas, a pé, pelas veredas da serra.
Debaixo da terra, nas minas, os dias decorriam numa escuridão que apenas era iluminada pelos gasómetros; e no trabalho quotidiano (duro, perigoso, mal pago) a vida de cada um dependia quase completamente de factores como o instinto, a prudência e, sobretudo, a sorte. "No Inverno largámos o trabalho já de noite e pegámos o trabalho ainda de noite."
Uma vida de trevas e silicose, iluminada apenas pelos fins de semana com a família.
Dr. Paulo Ramalho - "Tempos Difíceis" - Tradição e Mudança na Serra do Açor


(...) Até aos anos quarente a economia de subsistência das aldeias serranas funcionava num circuito relativamente fechado, assente na auto-suficiência alimentar e em relações de troca, complementaridade e entreajuda que reduziam ao mínimo a circulação de dinheiro.
A venda dos cabritos e borregos, no fim do Verão, permitia a compra de roupa e calçado por altura da Feira do Mont´Alto. Para os que não tinham este recurso, a vida sempre foi muito difícil; tão difícil que por vezes só restava o caminho da emigração.
Apenas um pequeno número tinha possibilidades de angariar regularmente alguns tostões sem ter de abalar para longe; eram os artífices da aldeia - o ferreiro, o carpinteiro, o pedreiro, o alfaiate, o sapateiro, a tecedeira e pouco mais.
A partir dos anos quarenta surgiram outras profissões relacionadas coma exploração de recursos da montanha (carvoeiro, resineiro, madeireiro), ou com o trabalho das minas. Mas aumenta também o número daqueles que enviavam um ou dois filhos, para Lisboa e depois se iam governando com as mercearias (sempre acompanhadas de algumas notas) que eles faziam chegar á aldeia.
Antigamente os artesãos (...) passavam dias, ou mesmo semanas, em casa dos clientes, com eles vivendo, comendo em comum e dormindo numa loja ou palheiro. Muitas vezes o seu trabalho era pago, não em dinheiro, mas em géneros.
Dr. Paulo Ramalho - "Tempos Difíceis" - Tradição e Mudança na Serra do Açor


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