Arganil do Passado - Gastronomia

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Finalmente a Broa!

A broa cozia-se de oito em oito ou de quinze em quinze dias. A cozedura era feita nos fornos individuais ou, no caso dos que os não possuíam, nos fornos comunitários.
Fazia-se o crescente no dia anterior, misturado no malgão as sobras da última cozedura com alguma farinha e água morna.
Para a amassadura utilizava-se uma gamela de madeira - o crescente era então misturado com farinha de milho, água morna, sal e alguma farinha triga ou centeia, para a broa não ficar tão arroliçada.
Feita a massadura, a broa ficava a fintar à fogueira, enquanto se aquecia o forno.
Depois de quente, o forno era limpo com o rodo e o vassoiro; as broas eram tendidas no malgão e uma a uma colocadas com a pá no forno.
Com a massa que sobrava na gamela fazia-se uma bola de crescente que se guardava no malgão até à próxima cozedura.
As broas, uma vez cozidas, eram guardadas numa loja fresca e arejada.
Havia quem fizesse a broa só com milho, de modo a fundir (render) para quinze dias - é que quanto mais pesada no estômago, menos se levava à boca...

Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor


Em certos casos, esta "poupança forçada" constituía o único modo de enganar a fome, pois em muitas aldeias metade das famílias não tinham sequer milho que lhes chegasse para o ano inteiro.
Eram os mais pobres entre os pobres; os que não tinham sequer uma côdea para acompanhar o caldo das couves. A estes bem se podia aplicar o ditado: "Poupa que comer, não guardes que fazer."
O mel era um dos poucos "luxos" alimentares ao alcance de quase todos. Bastava fazer alguns cortiços e adquirir conhecimentos práticos elementares sobre as técnicas da apicultura.
O equipamento utilizado era também rudimentar e de fácil fabrico caseiro.

Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor


Num contexto de grande pobreza e frugalidade alimentar, o azeite assumia particular importância. Com ele se contava para "adubar o conduto" e acender as candeias e alentemas.
A azeitona apanhava-se nos meses de Dezembro e Janeiro. Constituía um trabalho arriscado, pois muitas das oliveiras estavam em penhascos e vertentes abruptas. Além disso, como as árvores só rararmente eram podadas (toda a rama era pouca para dar azeitonas) tinham que ser utilizadas escadas de doze e treze banços (degraus), com todos os riscos acrescidos de queda.
Para apanhar a azeitona saía-se de casa pela madrugada, de escada ao ombro. As escadas eram arrumadas às oliveiras e as azeitonas apanhadas à mão, para dentro de um cesto. Depois, chegava a vez de serem escolhidas (separadas das folhas) para dentro de uma saca.
O regresso a casa fazia-se já de noite, com a saca cheia às costas, e nas mãos enregeladas.

No Lagar
Os lagares só começavam a andar quando a azeitona estivesse quase toda apanhada. Funcionavam, da mesma forma que os moinhos da farinha, com a água de rios e ribeiros, conduzida por levadas.
O lagareiro, com os seus ajudantes (normalmente familiares), trabalhava ininterrupta e arduamente, dia após dia, até ao fim da campanha. Cada munho de azeitonas levava cerca de seis horas a moer e algumas mais se passavam até chegar, enfim o momento de benzer o azeite novo:
"Deus te acrescente agora e sempre pelas almas do Purgatório".
Depois eram esperadas medições: uma parte (a poia) para o "pote ladrão" do lagareiro, dez para os donos da azeitona; e assim sucessivamente.
A safra do ano era levada para casa em bilhas de folha ou em odres.

Azeite Novo
Uma vez em casa, o azeite novo era cuidadosamente guardado numa loja fresca, em potes (ou talhas) de barro preto ou em talhas de pedra.
Administrado com parcimónia e bom senso, ele chegaria, num bom ano, para todas as necessidades - adubar a comida, acender a candeia, pagar promessas e favores, alumiar os mortos, conservar os chouriços e os queijos...
E como nada do pouco que havia se podia desperdiçar, o bagaço da azeitona era também trazido do lagar, para servir de estrume ou dar como alimento aos porcos.
Ciclo de azeite e ciclo de porco, criação de gado e agricultura, vida familiar e subsistência económica - tudo se cruzava, tudo estava intimamente ligado na vida quotidiana.

Dr. Paulo Ramalho, in Tempos Difíceis - Tradição e Mudança na Serra do Açor





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