Arganil Um Olhar Sobre o Passado

Um Pouco de História


 

O Passado de

Arganil

Do historiador António G. Mattoso, Excertos de "Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil.
Conferência integrada nos trabalhos do I Congresso Regionalista da Comarca de Arganil. 1960 - Arganil.

O concelho de Arganil, subordinado ao distrito de Coimbra e enquadrado na Beira Litoral, compõe-se actualmente, das freguesias de Anseriz, Arganil, Barril de Alva, Benfeita, Celavisa, Cepos, Cerdeira, Coja, Folques, Piódão, Pomares, Pombeiro da Beira, S. Martinho da Cortiça, Sarzedo, Secarias, Teixeira e Vila Cova do Alva.

Esta organização data de 1936, embora se possa dizer mais ou menos fixada a partir da reforma administrativa de 1832, seguida das modificações que surgiram posteriormente - 1835, 1836, 1842, 1878, 1886, 1895, 1896 e outras.
Convém lembrar que Arganil, durante muito tempo pertenceu à comarca ou correição da Beira, passou em seguida, para a da Estremadura, e, em 1533, para a de Coimbra. Também da Procuradoria desta cidade se manteve dependente até 1647. Fernando Falcão Machado - O «Mapa dos Direitos do Foral de Coimbra em 1824», in «Coimbra» (Colectânea de Estudos organizados pelo Instituto de Coimbra e dedicada à memória do seu consócio honorário Dr. Augusto Mendes Simões de Castro), Coimbra, 1943, pág. 530.

O verdadeiro foral de Arganil, datado de 1175, seja outorgado por D. Pedro Ubertiz, nos últimos anos de reinado de D. Afonso Henriques, falecido em 1185. Dizemos «verdadeiro foral de Arganil» visto ser este que D. Dinis confirma e serve de norma a D. Manuel I, quando o «Venturoso», em 1514, dá novo foral a Arganil, encabeçado por estas palavras: - «Foral da vila de Arganil, do bispado de Coimbra, dado por Pero Ubertiz, confirmado por El-Rei D. Dinis per as rendas de Arganil...

(...) quando enquadramos o nosso concelho nas divisões mais amplas, quer se trate dos primitivos distritos, ou «terras», quer das «comarcas» e «procuradorias», variáveis em extensão no suceder das idades.. Bastará, como exemplo, lembrar que Arganil, durante muito tempo pertenceu à comarca ou correição da Beira, como atrás já se mencionou.

Estes factos obrigam-nos mais a olhar mais para a região do que para o edifício concelhio que aqui veio a formar-se, e, dentro da região, para as diversas localidades, a que a dubadoira do tempo deu vida e fisionomia especial.
Verdade seja que, analisadas estas, erguido ficará o corpo da nossa «pequena pátria», animado pela alma que os laços do sangue e da terra modelaram. Para tanto, importa, primeiro, conhecer o lastro humano aqui lançado, amorosamente preso ao solo, e por este amamentado na luta pela vida e na resistência ao invasor.

Vem do fundo das idades, de tão longe que mal ousamos descortiná-la na névoa da distância, a lembrança dos avós de nossos avós, aqui estabelecidos. As investigações de do dr. Castro Nunes não nos deixam hoje dúvidas a esse respeito. (vidé João de Castro Nunes - Novos elementos para o estudo da arte castreja em Portugal, Guimarães, 1958, pág.6 e segs. O castro da Lomba do Canho, vizinho da anta dos Moinhos de Vento, apesar de ainda incompletamente explorado, revelou-se tão rico de testemunhos, que já não nos é possível negar a existência desses nossos remotíssimos antepassados, possivelmente pertencentes à raça vigorosa dos construtores dos dólmens, genealogicamente relacionados com os Lusitanos, seus não menos vigorosos descendentes.

Olhando para o mapa das campanhas viriatinas, elaborado pelo prof. Schulten, (vidé Adolfo Schulten - Viriato, trad. de Alfredo de Ataíde, Porto, 1940, fim), que dedicou toda a vida de sábio investigador e arqueólogo a este trabalho ardoroso, fácil é verificar que, através das serranias da nossa região, deviam ter soado muitas vezes os ecos da buzina de Viriato, chamando os seus homens à peleja contra os Romanos invasores. E, se compararmos as qualidades que lhes atribui Estrabão com as que ainda hoje distinguem os nossos conterrâneos - a sobriedade, a persistência, a fragilidade, a resistência física e moral, a força de vontade, o amor entranhado pela terra - não resta dúvida de que nos há-de parecer ver ressuscitados os velhos partidários da independência lusitana na alma e no corpo dos vizinhos das nossas aldeias.

Aos ataques dos Romanos souberam eles opor resistência tão forte e prolongada que, só após dezenas e dezenas de anos de lutas sangrentas, conseguiram dominá-los. Apesar das baixas sofridas, não podemos, porém, acreditar que raça tão vigorosa desaparecesse para sempre. Embora inclementes, os Romanos não queriam o seu extermínio, nem dispunham de colonizadores que pudessem substituí-los. Interessava-lhes a submissão, não a ruína. E a política que vieram a adoptar, mostra isto perfeitamente, visto se saber que, em lugar de os votar ao abandono, uma vez subjugados, tentaram, pelo contrário, comunicar-lhes os seus costumes, dar-lhes a sus civilização, trazê-los ao seu convívio pacífico graças à fundação de cidades, à construção de monumentos, à abertura de estradas, à adopção de instituições administrativas, militares, judiciárias e educativas, destinadas a apagar a lembrança da sua rebeldia orgulhosa.

A tese de Alexandre Herculano, segundo o qual os Lusitanos não só se teriam corrompido, mas, mesmo, desaparecido, devido, sobretudo, ao domínio romano (vidé Alexandre Herculano - História de Portugal, Vol. I, 1914, pág. 48 e segs.), opõem-se hoje numerosos investigadores, que, embora em sentido lato, os consideram como «o mais importante elemento etnológico dos Portugueses», no dizer do prof. Mendes Correia (vidé A. A. Mendes Correia - Raízes de Portugal, Lisboa, 1938, pág. 51 e segs.). Nem os Romanos - continua este investigador - eram multidão formidável que alastrasse «por todo o solo conquistado, substituindo, integralmente, as populações preexistentes», nem lhes era possível apressar a sua influência, necessariamente de absorção lenta pela massa indígena, «numericamente predominante, geograficamente adaptada e fisiologicamente enraízada». (vidé A. A. Mendes Correia - Os Povos Primitivos da Lusitânia, Porto, 1924, pág 371 e segs.).

Até que ponto sentiram os habitantes da nossa região a influência romana? - Que este alastrou através de algumas localidades da planície, naturalmente indicadas para centros administrativos e militares, não é possível pôr-se em dúvida, embora os testemunhos desta influência sejam bastante modestos. Enquadrados entre Conímbriga, Aeminium, Bobadela, Idanha, que uma bela via parece ter ligado, não repugna aceitar um contacto mais ou menos profundo entre dominadores e dominados. Que este contacto houvesse penetrado em profundidade na zona sertaneja, reduto difícil de atingir, e muito mais de defender, é que é caso para duvidar. Dizemos «em profundidade», visto ser de aceitar que, mesmo aqui, não deixasse de chegar, quer o cobrador de imposto, quer o funcionário adventício, sem que esta passagem fosse suficiente para alterar a fisionomia, modificar os costumes e corromper a raça dos vigorosos habitantes da montanha.

(...) Já vi afirmar, sem quaisquer provas, aliás, que Arganil, velha cidade romana, fora atacada e destruída peloa árabes em 716. Creio tratar-se de pura fantasia. Importante cidade romana não parece ter sido. Nada o documenta. Nem textos nem ruínas ou outros documentos arqueológicos. A romanização das Beiras foi muito superficial - ensina o dr. Sousa Soares. (vidé Torquato Brochado de Sousa Soares - Obra, cit., pág. 21, Nota 5. As suas principais povoações - Conimbriga e Aeminium - dotadas da importância que todos conhecem, foram, apesar apesar disso, cidades estipendiárias, «o que demonstra - diz este sábio professor - que os seus habitantes resistiram à conquista dos invasores romanos, e continuaram a regular-se pelas suas leis, mediante o pagamento de tributo». Se isto acontecia em aglomerados deste relevo, o que pensar das localidades da nossa região, muito mais difíceis de atingir, e, portanto, mais alheias à penetração romana?

Que esta aqui chegou, não pode ser posto em dúvida, como já afirmámos anteriormente. No ano de 138, antes de Cristo, logo a seguir à morte de Viriato, o cônsul Décio Juno Bruto, percorre a Estremadura e a Beira, onde destrói trinta povoações, e estabelece um campo fortificado em Viseu. Mais tarde organiza-se o acampamento de Antanhol, perto de Coimbra, só ultimamente descoberto. As sublevações, no entanto, nem por isso terminam. Diminuem apenas de intensidade, à medida que se intensifica o domínio romano, que vai alargando a sua influência, ajudado pela proximidade do centro da Lusitânia, onde as instituições romanas adquirem amplo desenvolvimento. Nestas condições, o que parece, talvez, mais conforme com a realidade, é que Arganil não passasse de humilde povoação aberta, tendo, como centro de refúgio e protecção, nos momentos graves, o velho castro da Lomba do Canho, onde o dr. Castro Nunes encontrou, num estrato com cerâmica datada dos primórdios da ocupação romana, mais de cem projécteis de catapulta. (vidé João de Castro Nunes - Obra cit., pág. 6.)





Praça de Simões Dias e Rua de Oliveira de Matos




  • Por Favor Envie o Seu Comentário ou Dúvidas

    O assunto do seu mail:

    O seu endereço de mail:

    Por favor escreva os seus comentários:




    Outros Sites:
    Outros Temas:
    Ou Dificuldades de Ligação:



       Search this site                 powered by FreeFind
     
    Site Map    What's New    Search


    Leia o Meu Livro de Visitantes

    Assine o Meu Livro de Visitantes


    página seguinte
    (continuação do tema)